quinta-feira, 5 de julho de 2012

Chernobil: 25 anos! Fatos e Mitos sobre o acidente nuclear - Parte 4

Versão artística da nuvem radioativa de Chernobil. Fonte: Radioactive Wolves.

Chernobil, 1986. O maior acidente nuclear da História. Derretimento do núcleo do reator. Explosão. Incêndio. Vazamento de radiação. Nuvem radioativa... Chuva radioativa... Água, solo e alimentos contaminados... Pânico! Zona de exclusão: cerca de 340 mil pessoas evacuadas, fugindo da mortal radiação...

Chernobil hoje: terra abandonada. Vinte e cinco anos sem a presença do homem. Cidades fantasma. Será ela uma terra assassinada pela venenosa radiação? O que aconteceu com os animais e plantas deixados à própria sorte dentro da zona de exclusão? Estarão todos mortos? Ou terão se transformado em monstros mutados geneticamente?

Zona de exclusão. Fonte: Radioactive Wolves.

Bem... nem uma coisa, nem outra! É o que nos mostra o documentário Radioactive Wolves (2011). Filmado na zona de exclusão de Chernobil, o filme revela que os efeitos da radiação no meio ambiente não foram tão catastróficos quanto nossa fértil imaginação sugere!

Reator de Chernobil e arredores. Fonte: Radioactive Wolves.

A radiação, embora ainda presente na região, parece não afetar de forma negativa os animais e plantas. A vegetação cresce e avança lentamente pela cidade de Pripyat, retomando o espaço que um dia fora seu. Animais, como aves, roedores e lobos, usam as estruturas deixadas pelos humanos para se protegerem dos inversos rigorosos e se reproduzirem.

Animais em Chernobil. Fonte: Radioactive Wolves.
Flores de Chernobil. Fonte: Radioactive Wolves.
 
Animais em Chernobil. Fonte: Radioactive Wolves.

Os lobos, em particular, são os objetos de estudo dos cientistas do documentário, pois eles são o topo da cadeia alimentar do ecossistema local e podem dar pistas de como a radiação afetou esse meio ambiente.

Lobo radioativo na zona de exclusão de Chernobil. Fonte: Radioactive Wolves.

Lobinhos na zona de exclusão. Fonte: Radioactive Wolves
Haviam rumores de que a população de lobos havia aumentado dentro da zona de exclusão, chegando até a 300 indivíduos. Através de coleiras com localizadores GPS e mapeando os rastros deixados pelos lobos, os pesquisadores concluíram que há cerca de 120 espécimes no local, número parecido ao de uma área de controle, fora da zona de exclusão. Além disso, eles descobiram que os lobos, bem como outros animais, estão se reproduzindo na zona de exclusão!

Lobo radioativo. Fonte: Radioactive Wolves.
Mas, e a radiação? Como ela afeta os animais? Bem, o documentário nos mostra que os animais são radioativos. As partículas radioativas liberadas no acidente nuclear penetraram o solo e a água e depois foram absorvidas pelas plantas. Os animais, ao se alimentarem e beberem dessa água, também acabaram acumulando partículas radioativas em seus órgãos e ossos.

Além disso, os pesquisadores concluíram que a quantidade de mutação genética observada nos animais da região por causa da radiação é o dobro das observadas fora da zona de exclusão. Isso significa que, embora alguns animais sofram com a radiação, a população em geral permanece saudável. 

Dona falcoa e sua ninhada. Fonte: Radioactive Wolves.
As condições de reprodução das espécies parecem ser até melhores nessa região devido à ausência do homem. Lobos, peixes, alguns roedores, águias e falcões estão entre os animais que conseguiram estabelecer ninhadas na zona de exclusão.

Cabe ressaltar que a principal ameaça para esses animais antes do acidente nuclear era a presença humana. Em particular, o desmatamento da região para a expansão da agricultura, com o "slogan" do "melhoramento da terra", forçava-os a migrar para outros locais. 

De fato, fora da zona de exclusão, a paisagem ainda parece a mesma, com vastos campos de agricultura. Dentro da zona de exclusão, por outro lado, a natureza se recuperou. Os canais, outrora de irrigação, hoje permitem o retorno dos castores que, através de suas barragens, criam ambientes favoráveis à reprodução dos peixes. O cisne, também natural dessa região, voltou a habitá-la.

Agricultura fora da zona de exclusão. Fonte: Radioactive Wolves.
Antigos canais de irrigação na zona de exclusão.
Fonte: Radioactive Wolves.

Além disso, já foram contadas mais de 120 espécies de pássaros na região e cavalos selvagens, que hoje só vivem em cativeiro, foram soltos nas florestas de Chernobil.

Passáros em Chernobil. Fonte: Radioactive Wolves.
Águia na zona de exclusão. Fonte: Radioactive Wolves.

Ironicamente, o maior desastre nuclear da História transformou-se em um refúgio único para espécies outrora ameaçadas pelo homem. Para os humanos, essa terra está perdida. Pelo menos aparentemente, só para os humanos!

O premiado documentário da PBS pode ser inteiramente visto abaixo, com som original em inglês e sem legendas (vamos "dessenferrujar" o inglês pessoal!). O canal Globosat HD também está exibindo esse documentário com legendas em português para seus assinantes. A próxima exibição será amanhã (05/07) às 11h30.

A equipe de filmagem de Radioactive Wolves passou mais tempo na zona de exclusão do que qualquer outra equipe da imprensa jamais conseguiu. Foram 100 dias de filmagem no período de um ano e a primeira equipe estrangeira a filmar na parte bielorrussa da área, trazendo as primeiras imagens aéreas em 20 anos. O resultado é a inédita imagem panorâmica da zona de Chernobyl, uma vista de 360 graus da região mais selvagem da Europa. Vale a pena conferir!




Observação: Cabe ressaltar que isso não esgota o assunto de como a radioatividade afeta o ecossistema. Só o monitoramento contínuo da área por um longo período poderá nos fornecer pistas de como responder essa questão!


Para saber mais

Site da PBS sobre o documentário Radioactive Wolves


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2 comentários:

  1. Muito bom este documentário da PBS. E o meu inglês deu pro gasto, pois o narração é bem clara e pausada. Os canais construídos nos anos 20, na época da URSS, para favorecer a agricultura, ainda estão lá, mas a região voltou a ser pantanosa e realmente muito selvagem, e com tantos lobos, daria um ótimo cenário para filmes de terror. Judiação uma área tão grande com índices de radiação ainda tão altos. Parece que vi em uma cena que este índice, em alguns casos estaria 30 vezes acima do normal. Complicado. Tomara que não ocorra mais nenhum acidente deste tipo no mundo, pois além de tantos outros problemas como as mortes, o impacto social causado, fazendo com que tantas famílias de agricultores tivessem que sair às pressas do local, deixando pra trás tudo que tinham construído, foi muito grande.
    E o caso do cemitério. Vi que os parentes têm autorização para visitar o local algumas vezes. Tristeza em dobro. Fica até difícil imaginar o sofrimento de toda essa gente, mas lembremos também que um grande número de pessoas são retiradas de áreas em que cresceram, aqui no Brasil, quando se constróem hidrelétricas. Acho que para suprir a demanda de energia elétrica, em crescimento acelerado, do jeito que está hoje, sempre haverá perdas e impactos sociais. Mas as pessoas querem consumir cada vez mais energia elétrica, e em muitos casos, aquelas próprias pessoas que sofrem com os impactos. Até quando este modelo se sustentará? E mais: Será mesmo que conseguiremos dispensar a curto e médio prazo as usinas nucleares como fonte de energia? Pelo jeito não creio. Êta mundo complicado!

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    1. Que bom que você gostou do documentário, Jairo!

      Claro que os sinais de recuperação do meio ambiente que o documentário aponta não amenizam os grandes impactos sociais do acidente de Chernobil. Para tentar evitar que ocorram mais acidentes com consequências similares às de Chernobil, as usinas nucleares devem passar por constantes revisões de segurança e, igualmente importante, os operadores das usinas devem ser extensivamente treinados.

      Bem lembrada essa questão da desapopriação de terras para a contrução de hidrelétricas. Muitas vezes isso ocorre sem respeitar os direitos humanos básicos (veja mais no site do Movimento dos Atingidos por Barragens: http://www.mabnacional.org.br/).

      O interessante é que isso não sai muito na grande mídia!!! Não entendo o porquê, já que pra mim isso é uma tragédia e tanto!

      Há algum tempo assisti dois filmes interessantes com essa temática: Narradores de Javé (2003) - esse é brasileiro - e Northfork (2003).

      É... o mundo é complicado mesmo!

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