sexta-feira, 1 de junho de 2012

Vai uma cachaça irradiada aí?

Cachaça boa é aquela envelhecida em tonel de madeira! Quem aprecia a bebida mais tradicional do país sabe que esse período de maturação, imprescindível para a obtenção de uma melhor qualidade, pode levar até três anos, já que, nesse tempo de amadurecimento, o produto estocado sofre reações químicas, melhorando suas características, inclusive sensoriais, e agregando mais valor.

Para esse amadurecimento, muitas pesquisas já foram realizadas nos laboratórios de Irradiação de Alimentos e Radioentomologia do Cena/USP; Departamento de Agroindústria, Alimentos e Nutrição da Esalq/USP; Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares – Ipen/SP; Faculdade de Tecnologia de Piracicaba – Fatec e, recentemente, no laboratório de Radiobiologia e Ambiente, do Cena/USP. Todas são unânimes em afirmar que o processo de irradiação pode ser utilizado como um método alternativo de envelhecimento de cachaça, já que essa técnica acelera o processo convencional. 

A fórmula tradicional de envelhecimento da cachaça consiste em sua interação com madeiras, realizada pelo armazenamento do líquido por um longo período em barris. “Esse processo é uma das etapas mais importantes para a obtenção de uma cachaça de alta qualidade. As reações que ocorrem durante esse tempo favorecem a formação de compostos que influenciam no aroma, sabor e aparência da bebida”, explica Valter Arthur, professor que coordena um estudo que abrevia consideravelmente esse longo período. 

Baseados nos experimentos realizados neste e em outros laboratórios, é possível afirmar que o uso da irradiação numa dose 0,3 kGy (kilogray: quantidade de energia absorvida pelo material), considerada relativamente baixa, pode acelerar o processo de envelhecimento de cachaça. “Com essa metodologia, aceleramos o envelhecimento e obtivemos uma cachaça similar à convencional, quando comparado aos mesmos parâmetros”, comenta Arthur. 

Fonte: Blog do CENA

Outra vantagem apresentada é a diminuição dos aldeídos, componente responsável pela famigerada dor de cabeça. “Conseguimos uma diminuição expressiva desse composto químico que está diretamente relacionado ao desconforto que se sente ao ingerir a bebida numa dose além do limite”, disse Juliana Angelo Pires, pós-graduanda do laboratório de Radiobiologia e Ambiente. 

Porém, para o aprimoramento do aspecto visual da bebida, a cachaça irradiada também vem sofrendo um período de envelhecimento. “Os apreciadores ainda preferem o destilado de cana-de-açúcar com a cor amarelada. Assim, ainda estamos utilizando a bebida semienvelhecida em tonéis de amendoim, pois essa coloração é normalmente obtida com a ajuda da madeira”. 

Pesquisa com métodos alternativos, como adição de caramelo, para a coloração da cachaça já está sendo realizada para eliminar a necessidade da estocagem em tonéis de madeira. “Além disso, já estamos incorporando extratos vegetais como própolis, urucum e outros para dar essa coloração à cachaça e incrementar atributos com propriedades biológicas. Consequentemente, isso aumentará ainda mais a viabilidade prática e econômica do processo de irradiação em larga escala de cachaça, pois somente o produto final, ou seja, as cachaças já engarrafadas e encaixotadas serão irradiadas para o envelhecimento”, finaliza Arthur. 

Fonte: Blog do Centro de Energia Nuclear na Agricultura

4 comentários:

  1. Muito bacana esta notícia. É interessante ficar sabendo destas coisas através do seu blog. Eu moro em Piracicaba, a "terra da Cachaça", e nunca tinha ouvido falar que o processo de envelhecimento pode ser acelerado através da irradiação. Vou espalhar entre os amigos apreciadores. Eu mesmo só faço uso deste líquido muito esporadicamente, apenas para degustar mesmo, pois tenho receio justamente dos efeitos dos aldeídos no dia seguinte. Além disso, não costumo misturar destilados com cerveja, pois já tive algumas experiências traumáticas no passado distante.(Quem já não teve?).
    Mais uma vez vamos desmistificando aquele conceito distorcido que muitas pessoas fazem ao associarem radiação somente aos seus efeitos perigosos para nós, minimizando assim o valor de tantas aplicações benéficas em nossas vidas.

    Fique atenta, pois aqui em Piracicaba, todo ano eles promovem na famosa Rua do Porto, o "Festival do Peixe e da Cachaça". Tem cahaça de todo tipo que você imaginar. E fica uma dica para o CENA: Divulgar neste evento, a cachaça envelhecida artificialmente. Ótima oportunidade para divulgar ao povão estas surpreendentes aplicações da radiação. O que acha?

    Abraço.

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  2. Jairo,

    muito boa a sua dica do Festival do Peixe e da Cachaça. Vou já sugerir ao CENA!

    Sobre os efeitos da mistura de destilados com cerveja, não vou nem comentar...

    Abraços

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  3. Lembrei-me deste post, ao ler esta notícia:
    http://g1.globo.com/sp/piracicaba-regiao/noticia/2013/01/cachaca-curtida-com-irradiacao-da-menos-ressaca-diz-usp-de-piracicaba.html

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  4. Salve, pessoas. sou pesquisador e apreciador da cachaça. Não conhecia esse processo de envelhecimento por irradiação. Quando o processo estiver prontos muitas mudanças ocorrerão na industrialização da bebida.
    Tem como realizar esse procedimento de envelhecimento por irradiação para as cachaças produzidas artesanalmente?
    Grande Abraço,

    http://www.cachacanarede.com/

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