quarta-feira, 30 de novembro de 2011

O exército dos fantasmas da radiação

O fantasma da radiação assombra a sociedade há pelo menos meio século. E o grupo de artistas anônimos Luzinterruptus transformou esse nosso medo de fantasma em arte/protesto contra a energia nuclear.

A instalação Controle Radioativo foi montada em Hamburgo, na Alemanha, para o festival de música e arte Dockville, em Agosto desse ano. Nela, um exército de 100 figuras humanas vestidas com "roupas anti-radiação" e iluminadas "avançavam" em direção ao local do festival.

O objetivo era "convidar as pessoas à reflexão" sobre o uso da energia nuclear e seus efeitos à saúde e ao meio-ambiente. Segundo o manifesto do Luzinterruptus, eles queriam "simular, para o festival, uma vida sob constante ameaça de acidentes nucleares".

Vejam algumas fotos:






Bonito, não? Parece mesmo um exército de fantasmas da radiação! Inicialmente, achei a proposta interessante. De fato, uma das manifestações contra a energia nuclear mais artísticas que já vi.

Entretanto, gostaria de chamar a atenção para um ponto. Ao usar estas figuras fantasmagóricas e associá-las ao símbolo radioativo do trifólio, o grupo Luzinterruptus contribui para mitificar ainda mais a radiação!

De fato, o interessante dessa manifestação é que além de representar a materialização do senso comum (o medo da radiação) que a grande maioria das pessoas cultiva consciente ou incoscientemente, ela reflete, também, o clássico discurso do contra que desde a década de 60 já apela ao medo nuclear (já falei um pouco disso em outro post). A expressão "uma vida sob constante ameaça de acidentes nucleares" usada pelo grupo me leva a apostar que essa foi sua motivação.

Se a missão era realmente "convidar à reflexão" acerca do uso da energia nuclear, acho que o grupo falhou. Na prática, acredito que o máximo que eles conseguiram foi (re)acender o medo nuclear. Infelizmente.


Para saber mais:

Site dos Luzinterruptus - Under nuclear threat


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quarta-feira, 23 de novembro de 2011

O programa nuclear iraniano

Fonte: Wikipedia.
O país dos aiatolás ganha espaço na mídia novamente. O estopim da vez foi o relatório da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) que reforça a suspeita de uma "possível dimensão militar" do programa nuclear do Irã. Entretanto, o presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad afirma (mais uma vez) que seu programa nuclear tem apenas objetivos pacíficos.

O programa nuclear iraniano foi lançado na década de 1950, com a ajuda dos Estados Unidos, como parte do programa Átomos para a Paz. Após a Revolução Islâmica de 1979, o governo do Irã abandonou temporariamente o programa, mas acabou relançando-o, embora com menor assistência ocidental. Em 1995, através de um acordo com a Rússia, o programa nuclear do Irã voltou a ganhar forças. No entanto, somente com a eleição, em 2005, de Mahmoud Ahmadinejad, fundamentalista islâmico conservador, o país deixou o mundo Ocidental e Israel com receio dos possíveis fins bélicos desse programa.

Fonte: O Estado de São Paulo.
De acordo com o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), somente os países que explodiram a bomba atômica antes de 1° de janeiro de 1967 (Estados Unidos, Rússia, China, Reino Unido e França) têm o direito de possuírem esse tipo de armamento. Porém, algumas nações não autorizadas (Índia, Coreia do Norte, Paquistão e talvez Israel) possuem armas nucleares. E o Irã pode ser o próximo da lista.

Todo esse rebuliço acontece, na realidade, porque o Irã, que é signatário do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), insiste em desenvolver instalações nucleares "secretas", isto é, sem divulgá-las previamente à AIEA (isso ocorreu, por exemplo, em 2009, com a segunda usina de enriquecimento de urânio do país). Juntando isso com os testes de mísseis iranianos já realizados, com a "pressão contra" de Israel e dos Estados Unidos e com outras suspeitas bélicas (veja o infográfico) temos o cenário atual apontado pelo relatório da AIEA.

O programa nuclear do Irã foi discutido no programa Painel da Globo News em 12/11/2011:



Diversas resoluções da AIEA e sanções econômicas já foram adotadas contra o Irã. Desde 2006, a agência exige que o país suspenda seu programa de enriquecimento de urânio e permita o acesso livre e sem aviso prévio dos inspetores da AIEA. A resposta iraniana é sempre a mesma: o país não está interessado em armas nucleares e, mesmo com as sanções, não irá abrir mão de seu programa nuclear.

E assim o impasse continua...


Para saber mais:

Programa nuclear iraniano (Sem Fronteiras - 2009). Parte 1 de 2.
Programa nuclear iraniano (Sem Fronteiras - 2009). Parte 2 de 2.
Nem alarmismo nem complacência com o Irã, Leonam dos Santos Guimarães. Opera Mundi.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Aumenta exportação de eletricidade para Alemanha

Os fluxos líquidos de energia elétrica entre a França e a Alemanha têm aumentado significativamente nos últimos seis meses. Segundo a EDF, empresa que gerencia a eletricidade da França, em parte isto ocorreu devido ao encerramento dos reatores nucleares na Alemanha após o acidente de Fukushima-Daiichi.

A empresa francesa disse que havia 4,4 TWh das exportações líquidas entre abril e setembro de 2011, em comparação com 0,6 TWh no mesmo período em 2010, isto é, uma exportação líquida 7 vezes maior neste ano.

De acordo com a EDF, isto ocorreu por causa da combinação de uma maior disponibilidade nuclear francesa e menor demanda doméstica por causa do clima mais ameno.

Após o acidente em Fukushima, a Alemanha fechou os seus sete reatores mais antigos e disse que eles não serão reiniciados.

Fonte: Atividades Nucleares

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quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Dica de Livro - O projeto do submarino nuclear brasileiro

Quer saber mais sobre o submarino nuclear da Marinha? O livro "O projeto do submarino nuclear brasileiro. Uma história de ciência, tecnologia e soberania" da historiadora Fernanda das Graças Corrêa é uma boa pedida.


Autora: Fernanda das Graças Corrêa

Número de páginas: 284

Editora: Capax Dei

Edição:

Preço: R$ 50,00


O livro é resultado do mestrado da autora em História Comparada, com ênfase em Relações Internacionais, Segurança e Defesa Nacional, na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Além de trazer os assuntos da Defesa Nacional para serem debatidos pela sociedade brasileira, Fernanda Corrêa analisou a história do projeto do submarino nuclear numa conjuntura nacional e internacional, demonstrando as razões que motivaram os governos a apoiar ou não o projeto.

Embora o projeto do submarino nuclear brasileiro pertença a uma concepção estratégica do governo Geisel, na década de 1970, sua História começa na década de 1930, quando a ciência nuclear passou a ser incentivada pelo governo Vargas, criando a possibilidade de alguns físicos nucleares estrangeiros contribuírem na definição de uma política nuclear brasileira e na formação da própria comunidade científica brasileira.

Para se chegar ao estágio atual do projeto, foram necessárias parcerias intensas entre civis e militares em instituições e laboratórios brasileiros, durante e após a ditadura, além do Acordo Militar Brasil-França de 2009.

A segunda edição do livro foi lançada em Outubro de 2011 pela editora Capax Dei. A primeira edição, de Agosto de 2010, esgotou-se em menos de um ano! O livro tem sido elogiado pela crítica internacional, sendo, inclusive, citado e comentado por publicações como o jornal argentino La Nación e o francês Le Post.

Fica a dica!


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segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Entrevista: Enriquecendo com laser, a técnica para o futuro

Se você achou que esse post era sobre como ficar rico, se enganou. Enriquecimento, nesse caso, não se refere a dinheiro, mas, sim, ao urânio, o combustível de boa parte dos reatores nucleares do mundo.

O urânio é dito enriquecido quando, em relação ao encontrado na natureza, ele tem uma concentração maior do "tipo" de urânio (isótopo) que tem grandes chances de sofrer a fissão nuclear: ele é “mais rico” em urânio 235 (U235).

Atualmente, apenas duas técnicas de enriquecimento do urânio são usadas em escala industrial: a difusão gasosa e a ultracentrifugação. A difusão gasosa consiste em comprimir o gás hexafluoreto de urânio (UF6) através de membranas microporosas associadas em série, de forma a se separar o U238 do U235.

Entretanto, na última década, a difusão tornou-se obsoleta e vem sendo substituída pela ultracentrifugação, em que os isótopos de urânio são separados usando a força centrífuga que age nas partículas do gás UF6. Como o U238 é ligeiramente mais pesado (cerca de 1%) que o U235, ao circular em alta velocidade pela centrífuga, essa força faz com que os materiais fujam para as extremidades, concentrando o U238 em uma região mais externa da centrífuga que o U235.

Uma terceira forma de enriquecimento ganhou destaque na mídia recentemente: desde 2009, o consórcio entre GE, Hitachi e Cameco está pedindo licença para a construção de uma planta de enriquecimento a laser nos Estados Unidos. Essa técnica  já é pesquisada há mais de 30 anos, inclusive no Brasil, no Instituto de Estudos Avançados (IEAv) do Centro Tecnológico da Aeronáutica. 


Em entrevista exclusiva ao blog Nuclear: Conhecer para Debater, o Dr. Nicolau Rodrigues, especialista nesse assunto e gerente do projeto desenvolvido no IEAv-CTA, fala sobre o enriquecimento de urânio usando lasers e seus desafios.


Como funciona a técnica de enriquecimento de urânio via laser?

Nicolau:
Na realidade existem três técnicas básicas de enriquecimento de urânio por laser: AVLIS, MLIS e CRISLA. As três são baseadas no fato de que isótopos diferentes, ou moléculas contendo isótopos diferentes, absorvem luz de maneira ligeiramente diferente. Esse fenômeno é conhecido como desvio isotópico (isotopic shift). É possível configurar um laser de modo que ao iluminar um gás contendo os dois isótopos de urânio, somente um deles irá absorver a luz deste laser e, de maneira seletiva, somente este isótopo será excitado.

O método AVLIS (Atomic Vapor Laser Isotope Separation) tem as seguintes etapas: a-) em uma câmara de vácuo, urânio metálico é aquecido até ser evaporado e formar um jato de vapor atômico (jato de átomos isolados); b-) um laser de corante convenientemente sintonizado ilumina este vapor de forma a ser absorvido somente pelos isótopos 235U; c-) um segundo laser de corante é sintonizado de modo a ser absorvido somente pelo isótopo previamente excitado e este processo é repetido até que os isótopos de 235U sejam ionizados; d-) um campo eletromagnético atrai somente os átomos ionizados (no caso o 235U) para coletores de material enriquecido. O isótopo 238U, cego aos lasers de corante, “passam direto” pelo campo eletromagnético e são coletados em coletores de rejeitos.

O MLIS (Molecular Laser Isotope Separation) utiliza a molécula de UF6 que, à temperaturas próximas da ambiente, existe na forma de vapor. Lasers no infravermelho podem ser sintonizados de forma que as moléculas contendo o isótopo 235U absorvam preferencialmente a luz do laser. A absorção de vários fótons pelas moléculas pode excitá-las a tal ponto que esta se quebra em F + UF5. Na mesma temperatura de trabalho, o UF5 é sólido e pode ser facilmente separado do vapor remanescente. Como a excitação e a consequente quebra das moléculas é seletiva, o UF5 terá uma fração maior do isótopo 235U que o vapor de partida.

O CRISLA (Condensation Repression by Selective Laser Activation) também utiliza UF6 e lasers no infravermelho. Se um vapor é forçado a passar por uma tubeira supersônica, o ângulo com que o vapor sai da tubeira depende da massa das partículas que compõe o vapor. Um jato de vapor de UF6 é forçado a passar em uma tubeira a velocidades supersônicas; devido a processos aerodinâmicos, a temperatura do vapor cai e este tende a se condensar em aglomerados, como gotículas de água em uma nuvem. A formação de aglomerados é evitada se as moléculas de UF6 forem excitadas pela absorção de luz de um laser. Assim, um laser sintonizado de maneira que somente as moléculas contendo o isótopo 235U sejam excitadas determina a formação de vapor com partículas com massas muito diferentes: uma fração formada por moléculas de UF6 e o restante formado por aglomerados de moléculas. Devido a diferença de massas, estes dois vapores terão ângulos diferentes ao emergirem da tubeira e podem ser separados por anteparos.

O método utilizado pelo consórcio entre GE, Hitachi e Cameco na planta de separação por laser sendo licenciada os E.U.A. não é divulgado, no entanto há evidências que se trate do CRISLA.


Quais as vantagens dessa técnica em relação às técnicas de ultracentrifugação e a de difusão gasosa?

Nicolau:
A principal vantagem apresentada pelos métodos por laser, quando comparados com a ultracentrifugação e a difusão gasosa, é a alta seletividade, que permite a separação nos graus de enriquecimento necessário em uma única passagem, não sendo portanto necessária a adoção de cascatas de separação. Também devido a alta seletividade, em princípio 100% do 235U pode ser retirado do material de entrada, gerando um rejeito somente com 238U. O mesmo não ocorre com as ultracentrífugas nem com a difusão gasosa, que geram um rejeito contendo cerca 0,25% de 235U. Em outras palavras, o enriquecimento por meio de ultracentrífugas e difusão gasosa deixam cerca de 1/3 do 235U sem ser aproveitado junto ao rejeito.
Em 1984 a URENCO (consórcio Alemão-Holandês-Britânico produtor de combustível nuclear) apresentou um estudo comparativo da viabilidade econômica do enriquecimento de urânio via AVLIS, MLIS e usando ultracentrífuga. Concluíram que o método de separação por laser é o de menor custo final na produção de combustível nuclear, além de apresentar o melhor rendimento energético.


E as desvantagens?

Nicolau: A principal desvantagem dos métodos a laser é o denso aporte tecnológico. Existem barreiras tecnológicas que precisam ainda ser vencidas para a viabilização dos métodos em larga escala.


No Brasil, o senhor gerencia um projeto de enriquecimento de urânio via lasers que começou a ser desenvolvido na década de 1970. Quanto já foi gasto neste projeto?

Nicolau: Somente uma correção: o projeto sob minha gerência, baseado no método AVLIS, descrito acima, foi paralisado em março deste ano. O desenvolvimento deste projeto se confunde com o próprio desenvolvimento do IEAv. Muito dos recursos empregados no desenvolvimento do projeto foi compartilhado (tecnologia compartilhada) com outros projetos e atividades de pesquisa. No entanto, uma estimativa razoável seria que foi empregado neste projeto da ordem de 6 milhões de reais desde 1982.


Por que o projeto foi paralisado e há previsão de retomada dele?

Nicolau: O projeto foi paralisado principalmente por falta de recursos humanos, mas também devido à falta de regularidade na aplicação de recursos financeiros e às a amarras burocráticas na aplicação dos poucos recursos financeiros aplicados. Que seja do meu conhecimento, não há previsão de retomada do projeto no âmbito do IEAv.


E quais os principais resultados obtidos?

Nicolau: Os resultados quantitativos são classificados e não tenho autorização para divulgá-los, no entanto, de forma sintética, seguem os principais resultados obtidos no âmbito do projeto:
- desenvolvimento de lasers de corante para a excitação seletiva de urânio;
- espectroscopia para identificação dos comprimentos de onda necessários para a excitação seletiva do isótopo 235U;
- obtenção de altíssima seletividade de excitação do 235U;
- coleta de material enriquecido a laser, com enriquecimento significativamente maiores que o obtido por uma única etapa de ultracentrífugação ou por difusão gasosa, em quantidades de laboratório.


Em 2004 já havia previsão para a construção de uma usina piloto. Qual a situação disso?

Nicolau: A usina piloto é cogitada desde as origens do projeto; em 2004 ocorreu uma das muitas discussões sobre o nível de conhecimento necessário para o projeto e construção de uma usina piloto de demonstração em escala de produção de combustível. Como já mencionado o projeto foi paralisado.


Quais os principais obstáculos a serem vencidos para que esta técnica alcance escala industrial?

Nicolau: Observar que me refiro somente à técnica desenvolvida no IEAv, que não é utilizada na usina da GE. Uma usina em escala industrial foi implementada, testada e transferida para a USEC nos E.U.A., utilizando o método AVLIS de separação. Naquela iniciativa, o principal obstáculo encontrado foi o manuseio de grandes quantidades de urânio líquido e na forma de vapor, necessários para o método.
No IEAv, o principal obstáculo é bem mais básico, é falta de continuidade de aporte de recursos e de apoio, e a desagregação da equipe capacitada para o desenvolvimento do projeto, que se encontra quase toda em vias de se aposentar.


No Brasil, há interesse nisso dado o avanço da técnica de ultracentrifugação da Marinha e sua instalação na Fábrica de Combustível Nuclear da INB?

Nicolau: A técnica de enriquecimento de urânio por ultracentrifugação é para agora: foi desenvolvida em todas suas etapas e atende de maneira adequada as necessidades de produção de combustível nuclear do País. No entanto, o enriquecimento por ultracentrifugação não aproveita todo o material físsil encontrado no urânio natural. Como já mencionado, cerca de 1/3 do 235U permanece no material rejeitado pelas ultracentrífugas, ou seja, 1/3 do seu potencial energético, não é aproveitado. Este rejeito das ultracentrífugas ainda pode ser separado usando lasers, recolhendo virtualmente todo o 235U disponível. Assim, as técnicas usando lasers são para o futuro. Acrescente-se ainda a conclusão do estudo da URENCO que as técnicas por laser eram as que apresentavam o menor custo final e o melhor aproveitamento energético.


O enriquecimento de urânio pode gerar preocupações sobre a produção de material para bombas atômicas. Do ponto de vista técnico, o enriquecimento via lasers permite alcançar altos enriquecimentos de forma mais fácil que as técnicas de ultracentrifugação e a difusão gasosa?

Nicolau: Do ponto de vista técnico, as técnicas de enriquecimento por laser permitem a obtenção de altos enriquecimentos em uma única etapa, no entanto, a ultracentrifugação é a de mais fácil implementação, principalmente em atividades não declaradas, uma vez que utiliza tecnologias de mais fácil acesso. Vide o caso da Coreia do Norte.


Para saber mais:

Avanço no uso de laser para enriquecimento do urânio pode proliferar bombas (tradução do artigo do The New York Times)
Projeto Javari-1: Separação Isotópica via Lasers e Vapor Atômico - IEAv/CTA
Brasil desenvolve técnica avançada de enriquecimento de urânio - Com Ciência, 2004
Enriquecimento de Urânio no Brasil - Desenvolvimento da tecnologia por ultracentrifugação - Economia & Energia, 2006.


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quinta-feira, 3 de novembro de 2011

INB encontra nova reserva de urânio

Por Marcos de Moura e Souza em Valor Econômico (25/10/2011)

O mineral urânio. Fonte: INB
A estatal Indústrias Nucleares do Brasil (INB) descobriu no interior da Bahia indícios de urânio com o dobro de concentração daquele extraído da única mina ativa do Brasil. A área fica na região de Caetité (BA), onde a INB já explora urânio. Embora os dados sejam preliminares, a estatal acredita que a reserva de Caetité dobrará de tamanho com novas descobertas.

"Na mina em operação em Caetité, o urânio tem 3 mil partes por milhão (ppm). Nas amostras que colhemos, o urânio tem 6 mil partes por milhão. No Brasil, nunca identificamos uma região tão rica quanto essa", disse o diretor de Recursos Minerais da INB, Otto Bittencourt. Se confirmada, a reserva poderá produzir o combustível para Angra 3 e para as quatro das oito novas usinas que o governo pretende construir até 2030.

As descobertas ocorreram há quatro meses. A primeira a encontrar pistas de urânio de alto teor foi a Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM), que trabalhava em parceria com a INB. A CBPM, que havia identificado 34 áreas com indícios na região onde está a mina, detectou 22 novos alvos.

A INB, então, escolheu dois desses pontos para cavar. Não precisou ir fundo. A cerca de um metro e meio, segundo Bittencourt, os técnicos pararam numa camada de rocha e de lá colheram amostras do urânio com 6 mil ppm.

Para detalhar a descoberta - saber, por exemplo, qual a extensão da área onde foram encontradas essas amostras e se em outros pontos o teor no minério é tão alto - a INB está preparando licitação para contratar uma empresa que faça a sondagem do solo. Isso significa perfurar cerca 100 metros de rocha com um equipamento com ponta de diamante que permite uma leitura mais precisa da riqueza encontrada no solo. Os novos alvos - termo usado pelos geólogos - estão na zona rural da região do município de Caetité, a 750 km de Salvador. A INB tem comprado de sitiantes as terras sob as quais pode estar a nova reserva.

"Pelo que já vimos, a perspectiva é de no mínimo dobrar o tamanho da reserva de Caetité", disse o diretor. Descoberta nos anos 70, a mina de Caetité é a única que produz urânio não só no Brasil, mas em toda a América Latina. A reserva medida, indicada e inferida é de 100 mil toneladas de urânio - das quais 80 mil consideradas garantidas. Esse valor inclui as 34 áreas já identificadas além da área da mina em operação. Se a promessa se confirmar, são os 22 novos alvos que ampliarão as reservas para 200 mil toneladas. Com uma vantagem: com minério que tem o dobro de teor, a INB gastaria os mesmos recursos para produzir o dobro de concentrado, diz o diretor.

O custo de produção do concentrado é de US$ 50 a US$ 60 mil por tonelada. A INB tem o monopólio no Brasil da venda de concentrado de urânio. Tudo o que produz abastece a Eletronuclear e (depois da fase de enriquecimento na Europa) alimenta as usinas de Angra 1 e Angra 2. O Brasil não exporta.

As reservas totais de urânio do país são de 309 mil toneladas. Além das aproximadas 100 mil de Caetité, a reserva de Santa Quitéria (CE) tem 140 mil toneladas que deve começar a produzir em 2017; o resto está espalhado em quantidades menores pelo país. Em 2009, o Brasil produziu 400 toneladas de concentrado; em 2010, caiu para menos de 200 toneladas e este ano deve voltar para as 400 toneladas.

O achado na Bahia é resultado da retomada dos trabalhos de prospecção. "De meados dos anos 80 até 2007, a pesquisa mineral de urânio esteve quase desativada. As reservas de 300 mil toneladas eram mais do que suficientes para atender à demanda interna". Em 2007, o governo federal retomou o programa nuclear e estabeleceu, entre outras metas, terminar a construção de Angra 3, construir entre quatro e oito usinas até 2030 e ampliar as reservas e a produção de concentrado urânio. "Os últimos levantamentos do Serviço Geológico do Brasil indicam várias áreas com anomalias radioativas de urânio. É tudo novo, áreas que não conhecíamos por causa dessa desativação das pesquisas."

A INB pesquisa em diversos Estados, como Pará, Roraima, Ceará, Bahia e Minas Gerais. Bittencourt mostra otimismo. "Em cinco ou dez anos, o Brasil terá aumentado suas reservas para 1 milhão de toneladas, o equivalente às atuais reservas da Austrália."

Fonte: Seção de Notícias da INB

Para Saber Mais:

O Mineral Urânio - site da INB